Oi, gente! Estamos de volta para mais um pouco de aula de história haha No post passado, contei da influência céltica e dos vikings, do cristianismo, das construções dos normandos e do início de um longo período de controle inglês.
Quando paramos, a Irlanda estava unida politicamente à Inglaterra. Isso foi lá em 1798! Só em 1829, um dos maiores líderes da Irlanda, Daniel O'Connell (nome da rua principal de Dublin!) conseguiu uma vitória que o inspirou a tentar o cancelamento da Act of Union. Mas seu estilo pacifista não foi muito apoiado, e logo depois o país enfrentou uma das maiores tragédias da história irlandesa, que fez com que todos esses problemas políticos fossem deixados de lado por um tempo: a Grande Fome.
Quem mora na Irlanda percebe que o principal alimento da população é a batata. Amigas minhas que trabalharam como au pair (cuidadores de criança) contavam que os almoços das famílias em geral sempre continham batata. Uma vez até ouvi falar de uma refeição que foi purê de batata com batata soutê! haha Além disso, o fish and chips é famoso por lá e qualquer prato que você pedir em restaurantes irlandeses vão vir acompanhados de batata - pode ser chips ou crisps, elas sempre estarão lá! Na pizza, no hambúrguer, no sanduíche...
Então, na época, a batata já era o principal alimento... Até uma praga atingir as plantações de todo o país em 1845 e levarem a um desastre completo. O controle inglês não ajudava em nada: os acordos de comércio entre os países obrigavam a Irlanda a exportar fartas colheitas de trigo e derivados de leite para a Grã-Bretanha e para o exterior, enquanto sua população morria de fome!
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The Famine Memorial - um monumento em homenagem aos mortos na Grande Fome |
Em seis anos, 2 milhões de pessoas morreram ou fugiram do país. Muitos emigrantes acabaram nos Estados Unidos. Em 1910, havia mais pessoas em Nova York de origem irlandesa do que em Dublin! Segundo o censo de 2008, a diáspora irlandesa nos Estados Unidos é quase seis vezes maior que a população da atual Irlanda.
Um dos passeios culturais que fiz em Dublin foi à Kilmainham Gaol - uma prisão fundada em 1796 e que acompanhou muitos dos horríveis acontecimentos da Irlanda. Na época da Fome, as celas, que foram construídas para apenas uma pessoa, chegavam a abrigar 4 ou 5 prisioneiros e a prisão ainda tinha seus corredores amontados. Muitas dessas pessoas roubavam com a intenção de serem presas - em Kilmainham elas encontrariam comida e abrigo.
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Ala Leste, em Kilmainham Gaol, construída no estilo vitoriano e aberta em 1864 |
Na época, havia pouco combate ao controle britânico no país. Foi Charles Stewart Parnell (outra rua de Dublin!) quem mudou isso. Seu título de "rei não coroado da Irlanda" deu-se devido ao seu incentivo ao Home Rule (autogoverno) - ele se tornou líder do Partido Irlandês pela Autonomia Política, que mais tarde viria a ser o Partido Parlamentar Irlandês - e, apesar de não ter sido bem-sucedido, sua luta foi importante para o futuro irlandês.
Se você acha, porém, que toda a Irlanda apoiava o fim da união com a Grã-Bretanha, está enganado. O norte irlandês era predominante protestante e sua maior preocupação era a concessão do Home Rule - já que seriam uma minoria dentro de uma população majoritariamente católica. Inclusive uma luta armada foi ameaçada para que houvesse a separação da Irlanda do Norte, caso a independência acontecesse.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, a Lei da Autonomia Política foi suspensa (um projeto de lei foi aprovado em 1912) e muitos nacionalistas acreditavam que a independência seria concedida depois da guerra, caso apoiassem a Inglaterra. A maioria, entretanto, não confiava nisso. E foi assim que começou o Easter Rising (Levante da Páscoa).
Dois grupos de rebeldes armados, o Irish Volunteers e o Irish Citizen Army, liderados respectivamente por Patrick Pearse e James Connolly, tomaram pontos importantes de Dublin em 24 de abril de 1916 - uma segunda-feira de Páscoa. Apesar de a maioria da população ser contra, as batalhas aconteceram e seguiram até 30 de abril, quando os rebeldes se renderam. Entretanto, a sanguinária resposta da administração britânica ao Levante fez a opinião pública mudar.
Lembram-se da Kilmainham Gaol? Os quatorze líderes do Easter Rising foram mortos lá. Um dos eventos mais marcantes da prisão foi o casamento de Joseph Plunkett, um dos líderes do levante. Ele e Grace Gifford estavam com data marcada para o dia em que a rebelião começou, e quando soube que o noivo seria executado ela persuadiu as autoridades a realizarem o casamento. Algumas horas depois, uma esquadrilha de atiradores fuzilou Plunkett. Outra história é o caso de James Conolly, que estava ferido e à beira da morte no dia de sua execução, e foi levado à Kilmainham em uma maca, amarrado a uma cadeira e fuzilado.
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Placa com os nomes dos líderes executados |
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Local onde Conolly foi executado |
Com isso, a população passou a apoiar a rebelião, o que levou um dos envolvidos no Easter Rising, Éamon de Valera, que evitara a execução, q ganhar a maioria das vagas irlandesas da Câmara dos Comuns com a concorrência do partido que liderava, Sinn Féin, nas eleições de 1918. Em 1919, os membros do Sinn Féin se reuniram em Dublin para formar um parlamento da República Irlandesa e declararam poder unilateral sobre toda a ilha.
A guerra da independência começou logo depois disso e seguiu até 1921, quando um tratado de independência foi assinado pelas autoridades irlandesas e britânicas. No entanto, a opinião pública ficou dividida: o tratado anunciava a divisão do país em Irlanda do Norte e Estado Livre Irlandês. Por causa disso, deu-se início a uma Guerra Civil (1922-1923) e foi só depois dela que se seguiu um período de relativa estabilidade política.
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Cela de Grace Gifford, mulher de Joseph Plunkett, lembram? Ela ficou presa em Kilmainham durante a Guerra Civil |
Que loucura, heim! Mas tô achando muito legal conhecer mais da história irlandesa (muita coisa eu tô aprendendo agora, pesquisando pra vocês!). E vocês? Tão gostando? Amanhã vai rolar a terceira e última parte, contando desde a independência até os dias de hoje. Tenho certeza que, depois de saber tanto sobre a Irlanda, vocês vão ficar com vontade de visitar esse país tão cheio de histórias tristes, mas ao mesmo tempo tão rico culturalmente.
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