Cada dia que chega ao fim é um dia a menos para a fatídica hora. Me pego às vezes pensando, às vezes planejando; outras até querendo esquecer que em pouco mais de três meses eu vou deixar o meu Brasil.
Dá até um frio na barriga dizer isso. Se ele é bom ou ruim, depende. Tem hora que me dá vontade de largar tudo e pegar o primeiro voo pra Dublin. Não ouvir mais cobranças, não ter as preocupações da vida que construí aqui nem o peso das escolhas passadas que parecem cada vez menos representar o que sou. Ter minha independência é o meu maior desejo.
Sei que solidão será a palavra de ordem; mas, nesse caso, ela será mais do que bem-vinda. Me pego esperando quase sempre por sua aproximação, pensando que talvez, só talvez, ela seja a grande resposta pra todas as minhas frustrações internas.
Mas aí eu penso nas pessoas que vou deixar. Na mãe que vai ficar um ano sem mim, no pai que eu amo demais, na vó com suas histórias da juventude pernambucana, no vô e sua teimosia. Daí lembro do bolo de chocolate da dinda (e a disposição dela pra estar sem alegre), a agitação do primo, o recém-nascimento do sobrinho, a felicidade de pais do irmão e da cunhada, das gracinhas do boy e de me juntar a ele pra implicar com sua mãe.
São tantas pequenas alegrias. São tantos pequenos momentos. Marcas - partes de mim. E, a partir desse dia, vou ter que aprender a deixá-las pra trás. Esquecê-las, jamais. Mas guardá-las na jarrinha da saudade pra dar espaço pra chegada das que ainda estão por vir.
Por um momento fica fácil. Mas aí é difícil de novo. E as inconstâncias do futuro vão me empurrando prum caminho sem volta. Talvez necessário, mas nunca facilitado. Porque se dizem que lar é onde o nosso coração está, então eu sou do Rio e de todo lugar.
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